Apesar de ser um livro que se pode ler num ápice, a sua
leitura demasiado rápida pode prejudicar a sua devida apreciação. A linguagem
tende para o poético e está agradável e bem delineada. As mulheres, cujas
acções e destinos são o centro da narrativa, por vezes confundem-se. Porém, uma
leitura atenta, poder-nos-à fazer notar das diferenças subtis entre elas, dos
seus relacionamentos e do modo como a autora fez tudo isto conjugar-se na linha
narrativa.
As mulheres são o centro da história. Mulheres alentejanas,
sofrem na vida as agruras do terreno. De origens campesinas, as diferentes
gerações de mulheres que geravam mulheres não se conseguem afastar desta sina.
Sempre ligado ao destino destas mulheres está uma família de estirpe masculina
e nobre. Elas são a terra, eles os lavradores que as lavram e fazem delas gerar
vida.
Conforme prossegue a leitura verificamos que as personagens
estão presas numa espiral que se afunila sempre no mesmo destino. Contudo, o
final em aberto deixa-nos a ideia que este ciclo pode ser quebrado. Por Amália,
que afinal herdou a deficiência do lado masculino da família, de Violeta cuja
saída do Alentejo significa uma quebra com a ligação com a terra, e Eugénia,
que vai passar a dominar a vida de Leonardo após o acidente que o deixa
incapacitado.
Sinopse:
«... Ambrósia suspeitou que o seu destino e o das mulheres do Monte
das Pedras estavam para sempre ligados ao do Monte do Fidalgo, embora
não soubesse exatamente como. Mas era uma coisa assim, um presságio que
reconhecia e que pairava no ar, no desenho das estrelas, na respiração
da terra, no palpitar das searas, nas nuvens do céu, nas lágrimas que
entornava e que davam de beber às rãs. Por isso, pensava que Deus a
queria ali, grande como um gigante e velha como um século, para olhar
pelo futuro das três irmãs e, quem sabe, para protegê-las de si
próprias.»
Três irmãs apaixonadas pelo mesmo homem. Uma jovem adolescente, Amália, que tem por única companhia a sua boneca Contratempo. Uma cigana centenária, Ambrósia, que tem o coração do tamanho do mundo e é capaz de ler nas suas próprias lágrimas as pulsões mais profundas daqueles que a rodeiam.
Sofia Marrecas Ferreira transporta-nos de novo a um mundo mágico e real, reconstituindo uma saga familiar que serve de suporte a uma reflexão literária sobre o encanto e as desilusões de uma cultura ancestral - a do Alentejo.
Três irmãs apaixonadas pelo mesmo homem. Uma jovem adolescente, Amália, que tem por única companhia a sua boneca Contratempo. Uma cigana centenária, Ambrósia, que tem o coração do tamanho do mundo e é capaz de ler nas suas próprias lágrimas as pulsões mais profundas daqueles que a rodeiam.
Sofia Marrecas Ferreira transporta-nos de novo a um mundo mágico e real, reconstituindo uma saga familiar que serve de suporte a uma reflexão literária sobre o encanto e as desilusões de uma cultura ancestral - a do Alentejo.
Às vezes o mar não chega
de Sofia Marrecas Ferreira
Edição/reimpressão: 2011
Páginas: 184
Editor: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-04397-9
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