sábado, 14 de setembro de 2013

Opinião: Às Vezes o Mar não Chega de Sofia Marrecas Ferreira



Apesar de ser um livro que se pode ler num ápice, a sua leitura demasiado rápida pode prejudicar a sua devida apreciação. A linguagem tende para o poético e está agradável e bem delineada. As mulheres, cujas acções e destinos são o centro da narrativa, por vezes confundem-se. Porém, uma leitura atenta, poder-nos-à fazer notar das diferenças subtis entre elas, dos seus relacionamentos e do modo como a autora fez tudo isto conjugar-se na linha narrativa.
As mulheres são o centro da história. Mulheres alentejanas, sofrem na vida as agruras do terreno. De origens campesinas, as diferentes gerações de mulheres que geravam mulheres não se conseguem afastar desta sina. Sempre ligado ao destino destas mulheres está uma família de estirpe masculina e nobre. Elas são a terra, eles os lavradores que as lavram e fazem delas gerar vida.
Conforme prossegue a leitura verificamos que as personagens estão presas numa espiral que se afunila sempre no mesmo destino. Contudo, o final em aberto deixa-nos a ideia que este ciclo pode ser quebrado. Por Amália, que afinal herdou a deficiência do lado masculino da família, de Violeta cuja saída do Alentejo significa uma quebra com a ligação com a terra, e Eugénia, que vai passar a dominar a vida de Leonardo após o acidente que o deixa incapacitado.




Sinopse:
«... Ambrósia suspeitou que o seu destino e o das mulheres do Monte das Pedras estavam para sempre ligados ao do Monte do Fidalgo, embora não soubesse exatamente como. Mas era uma coisa assim, um presságio que reconhecia e que pairava no ar, no desenho das estrelas, na respiração da terra, no palpitar das searas, nas nuvens do céu, nas lágrimas que entornava e que davam de beber às rãs. Por isso, pensava que Deus a queria ali, grande como um gigante e velha como um século, para olhar pelo futuro das três irmãs e, quem sabe, para protegê-las de si próprias.»

Três irmãs apaixonadas pelo mesmo homem. Uma jovem adolescente, Amália, que tem por única companhia a sua boneca Contratempo. Uma cigana centenária, Ambrósia, que tem o coração do tamanho do mundo e é capaz de ler nas suas próprias lágrimas as pulsões mais profundas daqueles que a rodeiam.

Sofia Marrecas Ferreira transporta-nos de novo a um mundo mágico e real, reconstituindo uma saga familiar que serve de suporte a uma reflexão literária sobre o encanto e as desilusões de uma cultura ancestral - a do Alentejo.
Às vezes o mar não chega
de Sofia Marrecas Ferreira
Edição/reimpressão: 2011
Páginas: 184
Editor: Porto Editora
ISBN: 978-972-0-04397-9


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