sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Opinião: "Cartas de Mariana Alcoforado" de Leonel Borrela por Jorge Lage Ligado

Jorge Lage Ligado publicou no Netbila (informação e para a divulgação da cultura regional, em especial da região de Trás-os-Montes e Alto Douro) uma opinião da obra Cartas de Mariana Alcoforado de Leonel Borrela que aqui transcrevemos:


Quando vamos a algum local só «vemos» o que os nossos sentidos permitem. A realidade pode ser diferente. Mas, em Maio último fomos a Beja apresentar o nosso livro «As Maias entre mitos e crenças» e enriquecemo-nos com novos amigos.
Em Beja, conheci o ilustre Leonel Borrela (LB), amigo do barrosão Hélder do Alvar e uma referência da cultura bejense, embora nascido em Loulé. De LB recebemos «Cartas (de) Soror Mariana Alcoforado».
Ao recebê-lo pensei que era mais um livro sobre a desafortunada freira bejense com um oficial do exército francês. Porém, esta obra fez com que mudasse a data que tinha na minha cabeça. A Soror Mariana (freira por obrigação familiar e não por vocação), no séc. XVII, apaixonou-se por um oficial francês que veio ajudar Portugal na Guerra da Restauração, sob o comando do marquês Schomberg, e não das Invasões Francesas, como eu supunha.
Outra constatação, à medida que ia avançando na leitura, foi que LB é um dos maiores coleccionadores, se não o maior, com cerca de 500 obras sobre Mariana Alcoforado.
Assim, esta obra, base da sua tese de mestrado, dá-nos a garantia de ser escrita por um especialista alcoforadino. LB é, ainda, museologista (Museu Regional de Beja) e um especialista em edições de livros antigos.
O seu livro, «Cartas (de) Soror Mariana Alcoforado», está dividido em duas partes: «Das Lettres Portuguaises e Mariana Alcoforado» e as «Cartas de Mariana».
Comecemos pelas Cartas que Soror Mariana escreveu ao seu amado, Noel Bouton, oficial do exército francês, conde de Chamilly-Saint-Lèger, foram editadas pelo livreiro parisiense Claude Barbin, em 1969, sob o título de «Lettres Portugaises traduite en François (sic)».


Estas cartas por serem escritas por uma freira (obrigada a ir para o convento), em pleno séc. XVII, despertaram um interesse enorme na França e um pouco por todo mundo e geraram edições sobre edições, com arranjos, acrescentos e ilustrações. Passado algum tempo, surgiu a polémica se teriam sido mesmo escritas pela desditosa freira.
Ao que parece, as cartas ter-se-ão perdido numa missão de guerra do conde de Chamilly na actual Turquia e quando não aparecem os originais entra a fantasia em acção.
Quanto a nós, depois de lermos esta obra achamos que foram escritas pela Soror Mariana. Por exemplo, no título original da publicação vem, «Lettres Portugaises traduites…». Se diz «Cartas Portuguesas traduzidas…» é porque existiam as originais portuguesas. As duas personagens desta trama também existiram. Os locais de Beja, entre eles o «Real Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição de Beja», onde se deram os amores proibidos, ainda hoje existem. A Soror Mariana Alcoforado, não era uma pessoa analfabeta como querem alguns detractores da autoria fazer crer, foi escrivã e vigária do convento das Freiras Clarissas. Uma pessoa de distinta família e instruída.
Depois de ler e meditar, penso que a esta polémica não será alheia alguma arrogância gaulesa relativamente ao nosso país, seguida por «meninos de coro» desta tese, em que se contam portugueses e brasileiros.
A primeira parte do livro de LB é uma tese desapaixonada e bem documentada, com cópias de originais, gravuras e fotos sobre a imensa obra das «Cartas».
Curioso é saber que os Alcoforado de Beja são originários de Trás-os-Montes e há alguns em Santa Maria de Émeres (Valpaços), ligados à confeccão do «bolo podre».
A primeira grande edição lusa (1888), com muito trabalho de investigação, é do grande mirandelense, Luciano Cordeiro. Fez, em 1894, uma boa sintetizada edição popular e que contribui para a divulgação das «Cartas» num país de analfabetos, seguida de outra de 1891 com álbum fotográfico resultado duma sua deslocação a Beja, em 1890, com o fotógrafo Francisco Camacho.
Também, em 1824, o Morgado de Mateus (Vila Real), fez uma edição bilingue – luso-francesa. O melhor estudo do século XX pertence a António Belard.
Esta obra de rigor pode ser solicitada à editora «100LUZ» ou a Leonel Borrela (963937532). Parabéns ao autor.

1 comentário:

  1. Agradeço mais uma vez, agora neste blogue, as palavras elogiosas de Jorge Lage sobre as "minhas" cartas de Soror Mariana Alcoforado, edição que resultou do trabalho de Seminário no final da licenciatura em História ramo do Património Cultural. O intuito foi o de apresentar ao Departamento de História da Universidade de Évora, um Inventário da minha colecção bibliográfica Alcoforadista seguida de uma breve história do livro e da leitura através das "Lettres Potugaises" e, para que atenuar a polémica sobre a atribuição portuguesa da autoria das célebres cartas, teci, então, alguns argumentos, menos conhecidos ou totalmente inéditos, a favor do nosso incontornável contributo: as cartas são nossas, portuguesas, de Mariana - foram traduzidas e talvez acrescentados de um ou outro pormenor literário, de relativa importância - são profundas, convincentes, sendo a única fantasia os "voos amorosos" que a malograda freira pensou dar fora do claustro. - Um agradecimento e grande abraço ao nosso amigo Jorge Lage, homem da cultura e das letras transmontanas e do país, atento ao que o rodeia, especialmente às tradições populares fazendo chegar bem a sul as suas investigações como é exemplo o caso das Maias, expressão primaveril do renascer, da juventude, da alegria e da abundância. Bem haja, LB

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