segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Biblioteca em aldeia do Alentejo é local de partilha de histórias e poesia
de: região-sul
Numa pequena e envelhecida aldeia do Alentejo, com cerca de 20 habitantes, uma biblioteca comunitária é dinamizada por uma professora reformada. Mais do que "casa" de livros, é um local de partilha de histórias e de poesia.
Na biblioteca Ler e Contar, situada na Aldeia de Alcarias, no concelho de Ourique (Beja), onde "não existem crianças", uma boa parte da escassa população idosa reúne-se uma vez por semana para "contar histórias, dizer umas quadras e até cantar".
"Falamos de tudo e de nada. Eu posso pedir para me contarem uma quadra e, a partir da quadra, desenvolvemos um tema. E também cantam", conta à agência Lusa Ana Vaz, impulsionadora do espaço.
Sem ter qualquer ligação ao Alentejo, a "não ser pelas férias" que passava na região, a professora, já reformada, "trocou" Lisboa pela Aldeia de Alcarias há mais de 10 anos, depois de cerca de duas décadas a dar aulas em escolas da capital.
Começou por comprar uma pequena casa junto à sua habitação na aldeia e, "sem saber bem o que lhe havia de fazer", a biblioteca começou a "ganhar forma". Foram doados livros, mobiliário e até um computador.
"As pessoas começaram a aderir e o engraçado foi que foram principalmente as senhoras, que me contam coisas daqui e eu conto histórias", assinala, referindo que o "ritual" da aldeia repete-se todas terças-feiras à tarde.
Ana Vaz afiança que aparecem todas as semanas "quatro ou cinco pessoas" quase todas idosas, porque na Aldeia de Alcarias "não existem crianças".
A biblioteca só é frequentada pelos mais novos da aldeia vizinha de Conceição durante as férias escolares ou quando a educadora de uma creche de Messejana, no concelho de Aljustrel, resolve fazer uma visita.
Alice Gomes de Brito e o marido reformaram-se e regressaram há cerca de um ano à aldeia, após cerca de 40 anos a viverem no Algarve. Confessa que não perdem uma tarde na biblioteca com os vizinhos para "ajudar a passar o tempo".
"Se não existisse a biblioteca, não tínhamos mais nada. Até mesmo a televisão às vezes falha", lamenta.
Também João Domingos, desempregado há quatro anos, é visitante assíduo do espaço. Gosta de ouvir "histórias que se passaram antigamente", contadas por "pessoas de mais idade", e a tarde de terça-feira "passa-se bem assim".
Numa aldeia "pequenina e envelhecida", defende que a biblioteca assume um papel social "importante", porque permite que "as pessoas se juntem uma vez por semana".
Já António Guerreiro, que se autointitula como "o mais divertido da aldeia", ocupa os dias com a sua horta e com os seus animais, mas, mesmo analfabeto, quando pode vai à biblioteca.
"Gosto disto. Gosto de cantar e divertir o pessoal e dar-me bem com as pessoas. E assim é que se passa o tempo", realça.
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